Uma palavra, um gemido obsceno, Uma noite sem nenhuma saída, Um coração que mal pudesse Defender-se da morte, Uma vírgula trémula de medo Num requerimento azul, azul, Uma noite passada num bordel Parecido com a vida, resumindo Brutalmente a vida!
A chave dos sonhos, o segredo Da felicidade, as mil e uma Noites de solidão e medo, A batata cozida do dia-a-dia, O muscular fim de semana, As sardinhas dormindo, Decapitadas, no azeite, O amor feito e desfeito Como uma cama E ao fundo – o mar... Mas defendi-me e agora escrevo Furiosamente, agora escrevo Para alguém:
Lembras-te, meu amor, dos passeios que demos Pela cidade? Dos dias que passámos Nos braços da cidade? Coleccionámos gente, rostos simples, frases De nenhum valor para além do mistério Também simples do nosso amor, Inventámos destinos, cruzámos vidas Feitas de compacta vontade, De dura necessidade, rostos frios Possuídos por uma ausência atroz, Corpos extenuados mas sem nenhum sono para dormir, Olhos já sem angústia, sem esperança, sem qualquer Pobre resto de vida! Seguimos a alegria das crianças, agressiva Como o carvão riscando uma parede, Aprendemos a rir (oh que vergonha!...) Com a gente «ordinária», e calados Descemos até ao rio – e ali ficámos A ver!
O amor continua muito alto, Muito acima, muito fora Da vida, muito raro E difícil: maravilhoso Quando devia ser fiel, Fiel em cada dia, Paciente e natural em cada dia, Profundo e ao mesmo tempo aéreo, Verde e simples, Como uma árvore!
Ganhámos juntos o que perdemos separados: A luz incomparável, esta luz quase louca Da primavera, esta gaivota Caída dos ombros da luz, E a leve, saborosa tristeza do entardecer, Como uma carta por abrir, Uma palavra por dizer...
Ganhámos juntos o que vamos perdendo Separados: A alegria – inocente Cidade, Coração aberto pela manhã, Pequeno barco subindo Nitidamente o rio, Fumegando, fumando Com o seu ar importante de homenzinho... E a ternura – beijo sobrevoando O teu rosto fiel, Fogo intensamente verde sobre a terra (...)
7 comentários:
"Que queriam fazer de mim?
Uma palavra, um gemido obsceno,
Uma noite sem nenhuma saída,
Um coração que mal pudesse
Defender-se da morte,
Uma vírgula trémula de medo
Num requerimento azul, azul,
Uma noite passada num bordel
Parecido com a vida, resumindo
Brutalmente a vida!
A chave dos sonhos, o segredo
Da felicidade, as mil e uma
Noites de solidão e medo,
A batata cozida do dia-a-dia,
O muscular fim de semana,
As sardinhas dormindo,
Decapitadas, no azeite,
O amor feito e desfeito
Como uma cama
E ao fundo – o mar...
Mas defendi-me e agora escrevo
Furiosamente, agora escrevo
Para alguém:
Lembras-te, meu amor, dos passeios que demos
Pela cidade? Dos dias que passámos
Nos braços da cidade?
Coleccionámos gente, rostos simples, frases
De nenhum valor para além do mistério
Também simples do nosso amor,
Inventámos destinos, cruzámos vidas
Feitas de compacta vontade,
De dura necessidade, rostos frios
Possuídos por uma ausência atroz,
Corpos extenuados mas sem nenhum sono para dormir,
Olhos já sem angústia, sem esperança, sem qualquer
Pobre resto de vida!
Seguimos a alegria das crianças, agressiva
Como o carvão riscando uma parede,
Aprendemos a rir (oh que vergonha!...)
Com a gente «ordinária», e calados
Descemos até ao rio – e ali ficámos
A ver!
O amor continua muito alto,
Muito acima, muito fora
Da vida, muito raro
E difícil: maravilhoso
Quando devia ser fiel,
Fiel em cada dia,
Paciente e natural em cada dia,
Profundo e ao mesmo tempo aéreo,
Verde e simples,
Como uma árvore!
Ganhámos juntos o que perdemos separados:
A luz incomparável, esta luz quase louca
Da primavera, esta gaivota
Caída dos ombros da luz,
E a leve, saborosa tristeza do entardecer,
Como uma carta por abrir,
Uma palavra por dizer...
Ganhámos juntos o que vamos perdendo
Separados:
A alegria – inocente
Cidade,
Coração aberto pela manhã,
Pequeno barco subindo
Nitidamente o rio,
Fumegando, fumando
Com o seu ar importante de homenzinho...
E a ternura – beijo sobrevoando
O teu rosto fiel,
Fogo intensamente verde sobre a terra (...)
Alexandre O'Neill
Na brisa da tarde/noite, um abraço abraçado.
:)
Vivemos daquilo que morremos...
Denso. Curto. Pontual.
bem, tenho que colocar a frase q me acompanha por meses:
"Onde aprender a odiar para não morrer de amor?" - Clarice Lispector
bj, Mucio. adoro suas poesias!
Morrer de amor não é só 'mérito' dos poetas...rs
abraços
Ah, muito muito bom, como sempre, Mr. Múcio!
hum...rs.. já li isso... (quem terá nascido primeiro??..rsrs)
adorei, adorei!
acho mais é que gente tem mais é que se acabar de amor poesia mesmo.
=)
beijo
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